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16 de dezembro de 2006

10 de dezembro de 2006

Ordinal

1002ª noite árabe
366º dia do ano
361º grau do círculo
301º espartano
121º dia de sodomita
61º minuto da hora
61º segundo do minuto
51º estado estadunidense
33º dente
27º estado nacional
27ª letra do alfabeto
25ª hora do dia
21º dedo
21º cigarro do maço
13º signo zodiacal
13º mês do ano
13º apóstolo
13ª unidade da dúzia
11º mandamento cristão
11º conto decamerão
9º planeta
8º dia da semana
8º pecado capital
8ª cor do arco-íris
8ª nota musical
6º sentido humano
6ª função orgânica
6ª faculdade psíquica
5ª estação do ano
5º elemento natural
5º lado do quadrado
5º ponto cardeal
4º ângulo do triângulo
4º mundo
4º trópico
4ª pessoa da trindade
3ª guerra mundial
3º olho
3ª face da moeda
3ª moeda ao barqueiro
3ª orelha
3º círculo polar
3º pé
3ª página da folha
3ª mão
2º nascimento
2º coração
2º umbigo
2º órgão genital
2ª boca
2º ânus
2º centro do mundo
2ª lua
2º sol
2ª morte
1ª felicidade

9 de dezembro de 2006

Duchamp e/ou Arte

Um respeitável cidadão francês tentou destruir com marteladas a obra de arte de Marcel Duchamp, exatamente aquela mais conhecida e que mais contribuiu para a fama do autor. Trata-se do mictório feito de louça branca que Duchamp colocou dentro de um museu.
Marcel Duchamp é, antes de tudo, um iconoclasta. Durante todo o tempo dedicou-se a destruir conceitos e a negar o estabelecido, às vezes com ações espalhafatosas, buscando renovar a arte e as formas de pensar. Se Duchamp pode, o cidadão francês de 77 anos também julgou poder destruir conceitos e declarou que as marteladas eram apenas uma intervenção artística e que seu trabalho seria aprovado por Duchamp. É muito possível. O que Marcel Duchamp desejava dizer quando colocou o urinol no museu? Não desejava, decerto, estabelecer novas verdades e conceitos; desejava exatamente questionar a validade dos conceitos e colocar a possibilidade de haver arte em qualquer objeto, desde que assim seja considerado. ...Difícil estabelecer um limite a partir do qual chega-se ou ultrapassa-se o exagero. O fato é que Duchamp contribuiu para o infindável debate entre o que é e o que não é arte. O homem do martelo também pode ser considerado assim. Por que não? Ele já havia mijado na mesma peça em uma exposição anterior e isso mostra que alguma coisa o provocava no tal mictório. Acabou sendo preso mas é certo que muitos artistas considerados geniais e revolucionários foram também completamente incompreendidos.

Duchamp quis "... transformar todas as pequenas manifestações externas de energia, em excesso ou desperdiçadas, como por exemplo... o crescimento dos cabelos ou das unhas, a queda da urina ou das fezes, os movimentos impulsivos do medo, do assombro, do riso, a queda da lágrima, os gestos da mãos, o olhar frio, o ronco ao se dormir, a ejaculação, o vômito, o desmaio, etc".

13 de novembro de 2006

Princípios?

Admitir-se-ia, provisoriamente, como inquestionáveis
Em axioma postulado proposição ou teorema
No início de uma dedução naquele ou neste sistema
Não sendo deduzidos de quaisquer outros consideráveis
...
Realidade é um conceito psicológico
Que designa a acomodação a uma situação
Que a experiência já tenha demonstrado como preferível
Mediante a contenção do princípio do prazer
Que tende apenas à satisfação de um impulso
Incerteza ou indeterminação pois é
Impossível realizar qualquer medição
Numa partícula muito pequena
Sem afetar seu estado natural
...
O tempo gasto por um raio luminoso
Entre dois pontos quaisquer é o menor possível
Todos os pontos de uma onda
De energia no vácuo podem ser
Considerados como novas fontes de ondas
Que se expandem em todas as direções
Num intervalo de tempo
Proporcional à velocidade
A ação ou trabalho mínimo pretende
Que o trabalho realizado é sempre o menor
Possível quando há transferência de energia
...
A população tende a crescer
Em progressão geométrica
Enquanto a produção de alimentos
Tende a aumentar em progressão aritmética
Todas as pessoas nacionais ou estrangeiras
Domiciliadas ou não estão sujeitas
Às leis do país onde se encontram
Constitucionais os dispositivos jurídicos
Fundamentais que se encontram implícitos
Ou expressos na constituição segundo os quais
Se organiza a vida jurídica da nação
E se estruturam e funcionam os órgãos estatais
Numa família de conjuntos não-vazios
Pode-se escolher ao mesmo tempo um elemento
De cada conjunto e considerar o conjunto A
Que não podia pertencer a nenhuma categoria
Como constituído desses elementos
...
Dois elétrons
De um mesmo átomo
Não podem ter o mesmo
Conjunto de números quânticos
Ou seja o mesmo nível de energia
Num líquido incompressível em equilíbrio
A variação da pressão se transmite integralmente
Em todas as direções e a toda a massa líquida
Todo corpo mergulhado num líquido
Está sujeito a uma força denominada
Empuxo que atua de baixo para cima
E é igual ao peso do volume de líquido deslocado
Um corpo mais pesado que o ar se sustenta no espaço
O fluxo elétrico que passa através de uma superfície fechada
É proporcional à carga contida
No interior dessa superfície
A entropia de todos os corpos
Tende a zero quando a temperatura
Tende ao zero absoluto
...
A condição ideal
De equilíbrio a que tendem
Os diversos blocos da crosta terrestre
Cosmologicamente parte do princípio
Que o universo é homogêneo e isotrópico
Sem local ou direção privilegiada para observação
A complementaridade
É observar um fenômeno qualquer
De dois pontos de vista diferentes e não excludentes
O valor relativo de duas grandezas
Da mesma espécie é constante
Independentemente da unidade escolhida
Um sistema em equilíbrio reage
A uma perturbação de modo a neutralizá-la
E a restabelecer o equilíbrio
Os processos biológicos do passado
Ocorreram de maneira semelhante aos atuais
...
A base filosófica para a aceitação
De novas teorias requer que a teoria
Mais recente explique a fenomenologia
Para as quais então a precedente valia
Tão evidente em si mesmo que dispensaria
Mesmo qualquer hipótese de demonstração
O que só depois de demonstrado se admitiria

9 de novembro de 2006

Não Lugar

A Terra eu enterrei no espaço
A tempo de herdar outra nova moradia
O Eu meu desabrigado invadiu o que faço
O utópico latifúndio ermo da poesia
[
Imagino a viagem invejoso
Viajo a inveja imaginoso
Imagino a imagem viajoso
]
Em alongada elipse de lado a lado
Um ano trópico transo pensar
Em eremitério voluntário impensado
Um mundo tropical queria alugar
Em lugar ao contrário rotacionado
Um translado mundano a rodar e rodar
Em alado querer voar tropica trançado
Um eclíptico pensamento a me alongar

8 de novembro de 2006

Suicídio: modo de usar

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.
Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão
fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões,
se o espírito tem nove ou dez categorias, vem depois.
São apenas jogos: primeiro é necessário responder.
Albert Camus

Se queremos realmente morrer, não percamos tempo escolhendo um local. O hotel é um local absolutamente adequado. Não esquecer de reservar o quarto, pagar dois dias adiantados e prevenir a portaria de que não queremos ser incomodados durante esses dois dias... temos de estar seguros de, pelo menos, um dia de tranquilidade. Quanto mais tarde for a descoberta do corpo, menores serão as chances de reanimação. Devemos absorver, de preferência, uma refeição leve a fim de que o estômago não esteja nem vazio, o que o tornaria extremanente sensível à dose maciça de medicamentos, nem cheio demais. Para reduzir ainda mais os riscos de vômitos, podemos tomar um remédio contra enjôo logo depois da refeição e cerca de uma hora antes de absorver os medicamentos mortais. É prudente testar antes o efeito desse medicamento antienjôo. A ação sedativa deve ser muito forte, se quisermos continuar executando bem o restante das operações. As doses mortais são proporcionais à corpulência do indivíduo. É preciso também considerar a eventual tolerância ao produto. Se somos habitualmente tratados com barbitúricos ou com morfina, convém aumentar as doses recomendadas. Conservaremos os medicamentos num local fresco, por exemplo, na parte de baixo do refrigerador. A propósito, é bom observar a data de fabricação e o prazo de validade. Seria uma ingenuidade pensar que os produtos cuja data de validade estiver ultrapassada são mais tóxicos e, assim, mais eficazes. Eles podem ter perdido a eficiência imediata e ganhado "toxicidade parcial", o que levaria ao fracasso e a seqüelas imprevisíveis. Podemos dissolver os comprimidos em pequena quantidade de água (realizar esta operação pouco antes do uso) e bebê-los com um pouco de mel ou de café se o gosto for muito amargo. É recomendado associar álcool e barbitúricos. O efeito deles, assim como o de outros medicamentos, é potencializado pelo álcool, numa proporção de até 50%. Alguns autores estimam que a água gasosa acelera a absorção das substâncias pelo estômago e recomendam sua associação com o álcool. Para evitar uma reanimação indesejável, tomaremos o cuidado de destruir as embalagens dos medicamentos utilizados. Teremos também feito desaparecer (e não simplesmente jogado na lixeira, que será, sem dúvida alguma, revistada) toda a correspondência, receitas fictícias ou de camaradagem e todos os documentos que indicam cumplicidade voluntária ou involuntária na preparação do suicídio. Dentro do mesmo espírito, não é inútil deixar uma nota retirando a responsabilidade de eventuais testemunhas ou dos próximos. Nenhuma dessas precauções é supérflua em caso de intervenção do serviço médico que, sabemos, "intervém ao mesmo tempo que a polícia, já que esta última está ligada na mesma freqüência de rádio e, em conseqüência, tem conhecimento de todas as intervenções do serviço médico. Elas visam igualmente a simplificar as formalidades posteriores ao falecimento. As únicas formas requisitadas para a validade de um testamento comum (totalmente manuscrito) são as seguintes: o documento deve estar inteiramente escrito, datado e assinado pela mão da pessoa que faz o testamento (o qual deve ter pelo menos 16 anos de idade). Pode ser escrito em qualquer papel, em várias folhas de papel separadas, sob a condição de que cada uma tenha data e assinatura e que a ligação entre elas seja aparente. Notemos, finalmente, que uma jurisprudência muito antiga exclui a possibilidade de que a morte por suicídio invalide um testamento sob alegação de "loucura".

Claude Guillon & Yves Le Bonniec

6 de novembro de 2006

SIC (Errro)

Quem tem um probrema tem dois
Asterístico é algo caracterisco
Duas isfirra i um xopis
.
Sertas listas listradas
Macabéas mal cabeu
Erranu listras listadas
Mau coube aus macabeu
.
Chadreis é xá di réis
Dingo amém au mendingo
Vai direto au porquês
.
Exclusive é anglissismu
Renegerar u geni
Incrusive um trossu bárbaru
Jerar dinovo a genti
.
Tô meia duendi avuada
Meiu dia i meia di medu mi remedu
Quemhentas grama a tumei-a
.
Brigado pur alembrá
Mais incorrigiver demás
Pra mim mi lembrá
Há déis ano atráz
.
Tau cual taubas im Tabuaté
Barríu i bárril i bairru
As pálavra vi elas

17 de outubro de 2006

Ler ou não ler

Oscar Wilde, citando alguns exemplos, nos informa que os livros podem ser muito comodamente divididos em três classes, a saber:
\
Os livros que se devem ler;
Os livros que se devem reler;
Os livros que não se devem ler nunca.
\
Comenta ainda que a terceira classe (todos os livros de argumentação e todos aqueles em que se tenciona provar alguma coisa) é, de muito, a mais importante. Dizer às pessoas o que devem ler é geralmente inútil ou prejudicial, porque a apreciação da literatura é questão de temperamento e não de ensino. Não existe nenhum manual do aprendiz do Parnaso, e nada do que se pode aprender por meio do ensino vale a pena aprender-se.
Ainda segundo o autor, dizer às pessoas o que não devem ler é coisa muito importante. Realmente é uma das necessidades que se deixam sentir, sobretudo quando se lê tanto, que já não se tem tempo de admirar, e quando se escreve tanto, que já não se tem tempo de pensar.
Ele termina com uma proposta. Quem escolher no caos de nossa literatura os CEM PIORES LIVROS e publicar a lista deles, fará um verdadeiro e eterno favor às gerações futuras.
Eu então gostaria de propor aqui exatamente o mesmo, desejando a participação de todas e todos, valendo tudo, incluindo o meu NãO FiQuE SãO ou até mesmo qualquer livro de Oscar Wilde. Eis a minha lista:
\
Os sofrimentos do jovem Werther (Goethe), O profeta (Gibran), A mulher de trinta anos (Balzac), A ressurreição (Tolstói), Para ser caluniado (Verlaine), Inferno (Strindberg), Os conquistadores (Verne), O morro dos ventos uivantes (Bronte), O clube dos suicidas (Stevenson), Pigmalião (Shaw), A mão direita (Soljenitsin), O imoralista (Gide), Haxixe (Benjamin), O apanhador no campo de centeio (Salinger), A volta do parafuso (James), Diários (Nijinski), A conseqüencia (Ziegler), O primeiro terço (Cassidy), O livro dos sonhos (Kerouac), Lenz (Schneider), A erva do diabo (Castaneda), Por quem os sinos dobram? (Hemingway), O som e a fúria (Falkner), Misto quente (Bukowski), Autobiografia precoce (Evtuchenko), Mephisto (K. Mann), Eram os deuses astronautas? (Däniken), Textos malditos (Pacheco), O desejo pego pelo rabo (Picasso), O diabo no corpo (Radiguet), O outro lado da meia noite (Sheldon), Ninguém é de ninguém (Gaspareto), Alta Fidelidade (Hornby), Kaos (Mautner), Crônicas de motel (Shepard), 13 (Townsend), O buda do subúrbio (Kureishi), Entre o sexo a loucura e a morte (J. A. Pinto), O sorriso do lagarto (J. U. Ribeiro), Depois do sol (I. L. Brandão)As pessoas dos livros (F. Young), As brumas de Ávalon (Bradley), O homem que matou Getúlio Vargas (Soares), Fliperama com creme (T. Coelho), Confissões de um comedor de xis (J. P. Goulart), Operação cavalo de Tróia (Benitez), O clube dos corações solitários (Takeda), De peito aberto (Romaní), Scum manifesto (Solanas), Diário de um mago (P. Coelho), Blecaute (M. R. Paiva).

Falar

Mamá mamãe
Papá papai
~
Óia o auau
De gatinhas
~
Dandá nenê
Passeá
De carrinho
~
Naná bebê
Arrotá
De carinho
~
Sem sonhá com bixo
Cresce sem medo
Fala comigo
Pa-ra-le-le-pí-pe-do

10 de outubro de 2006

Anniversary gift

Teardrops birthday
With greatest love flavor
In her happiness I stay
The only gift she's looking for
+ + +
The first piece of cake that bites me
And every plural ANA has an eye on this
Just because just like her, herself and she
I'm still twenty six years old already she is

8 de outubro de 2006

Do que mais tenho medo

1 De ler todos os livros interessantes
2 De encontrar algo ou alguém que valha a pena idolatrar
3 De ter de passar um final de semana sem cigarros
4 De acabar engravidando alguém que não amo
5 De acabar não cedendo a uma tentação
6 De encarar o olhar de José Aggripino de Paula
7 De uma música ruim não me sair mais da cabeça
8 De contar uma mentira muito bem sucedida
9 De a ciência descobrir a cura para o suicídio
10 De me deixar dominar por uma cota mensal de dinheiro
11 De alcançar satisfação sexual mais do que momentânea
12 De chegar de fato a ter o Mal de Auzheimer
13 De depois de morto descobrir que alguma religião estava correta
14 De continuar sendo um heterossexual para sempre
15 De finalmente conseguir tomar um LSD

Do que mais gosto

1 De reler o livro que mais gosto e perceber que não tinha entendido
2 De viajar de carro velho para bem longe
3 De ter o colo escolhido por um gato para se deitar
4 De reparar num dejà vú num dia tedioso
5 De macarrão à bolonhesa com carne assada, pão e vinho
6 De faltar ao trabalho tirando a quarta-feira de folga
7 De acordar bem tendo ido dormir com dor de cabeça
8 De ver um arco-íris diluído numa mancha de óleo na rua
9 De ouvir no rádio uma música que me faz relembrar o passado
10 De fumar um cigarro enquanto assisto alguém fumar num filme
11 De cutucar dolorosamente uma boa pereba no joelho
12 De mudar os móveis de lugar rearrumando um cômodo
13 De ver uma mulher sensual dançar se exibindo para mim
14 De me apaixonar à primeira vista por alguém que eu já conhecia
15 De notar o intervalo de tempo entre a imagem e o som dum trovão

7 de setembro de 2006

Os prazeres e os dias

Quero hoje ouvir a verdade que grita a vagina aberta até me fartar, por entre suas barbas hirsutas meter-me calando-a com minhas fálicas falácias e gozarmos juntos do silêncio ruidoso que fazem os corpos roçando-se. É o que faremos para matar o tédio, spleen e ideal. Um amante que não ousa dizer teu nome. Vou revirar-te as formas, espremer-te o conteúdo; saber-te as fraquezas na carne a maltratar: no suor que sorverei, nas redondas tetas que maleáveis pedem meus dentes que teus dentes sujam com meu sêmen seco. Flagro a fragrância que em nossa alcova deflagra teu tenro pomo, àquela hora já entediado do amor sáfico, ele entra em meu olfato e me torna besta furiosa, libidinosa e pagã. Assim dói? É? Fico feliz... Defloro-te a ampla vulva colhendo-te no horror do ato consumado sobre o nosso sangue coagulado (o meu, o teu e o do feto moribundo) e te arrombo o cu mutilando as nádegas maciças; amarro e violo, estupro mesmo, e você gosta, gosta... Chupo um cigarro e você me chupa, resmunga ao redor da extremidade que assim desse ângulo te faço lembrar do apolíneo do teu pai; trago forte e quero explodir em ti ao lembrar nosso filho morto que nunca poderei foder, até matar ou matar, até foder... ah, doeria mais nele do que em mim! Não, não. Não chore , mulher, que é coisa para sádicos além de uma vulgaridade. Isto tudo não passa de um passatempo. Poderíamos morrer agora, de pequenas mortes formidáveis. Plásticos e artísticos, elásticos. Sem látex latejantes. Vamos, pode morder... assim! Arranque para você um pedacinho só. Você pode chamá-lo de Prepúcio pois eu sei que não lhe sai da cabeça... De cabeça para baixo com os buracos a mercê ela fica uma graciosidade, presa e desconfortável assim então, uma tentação irresistível; resisto a tudo menos às tentações. Assim repenetro-lhe a vagina até o joelho e ela grita, piso-lhe os cabelos e ela mia, taco-lhe no cu o cigarro e ela arrebita. Somos festa móvel, particular e impublicável. E isto será bom para todos nós.

22 de agosto de 2006

Pictoníricamor


Ela sonhou comigo a noite passada
E na moldura dos sonhos me pintou
Inicialmente Pollock sem mim bagunçada
Noite de Spilliaert pois tão longe estou

Contou que Delvaux andávamos pelados
Numa casa, não a minha Dali, outra casa
Mais que longe Michelângelo
Era o meu mundo Magritte assim mesmo
Kandinsky que nos fazíamos cócegas
Warhol ríamos de acordo ficando acordados
Entre beijos Lichtenstein a nos Basquiat
Cupidamente o amor de Caravaggio
Fazendo amor eu Donatello ela Da Vinci
Onde céus de Munch se desmanchavam
Como há Milhazes de crepúsculos sempre
Com fusos Rubens dia e noite Caillebotte difuso
Escher casar em trajes de Klimt
Para festejarmos no sítio de Bruegel
Comíamos muito ficando Botero e felizes
Rivera, Orozco e Siqueiros reis magros nos visitavam
Eu me Kahlo imaginando-me Achacoso pai de Arcimboldo
Na ilha do Amaral parindo nosso amado Alexander

Eu de Chagall mal Giger conseguia dormir
Ela em viagem dormia mais do que afastada
Nós numa cama David atlântica imensa sonhada
Eu só pintava carneirinhos para conseguir

13 de agosto de 2006

Caracterização

Sonhava Antoine Doinel estar em lua de mel com Dorothy Gale em terras de Oz
Ela dançava sexy para ele pequena Lolita de início tornando-se uma Saraghina então
Desperta assustado com Ferris Bueller e Von Aschenbach teclando os pianos sem dós
Amanhecia e Cesare dormindo voltava de noitada com o Norman Bates de roupão
.
O Jeca Tatu picava seu fumo e dialogando com Kaspar Hauser o compreendia
Dona Flor cozinhava sorrindo para Mr. Hulot a quem traía com o Zé do Caixão
A Macabéa batia uma carta ao Coronel Kurtz que não voltou de onde ia
De táxi Travis Bickle ia até a bela Séverine Serizy para uma tarde de tesão
.
Regan MacNail se exorciza ouvindo o Jake Blues com cara de pau a lhe cantar
Ferdinand Griffon era desprezado por Camille Javal linda e fria demais para tal bufão
E Charles Foster Kane com um milhão assediava Mina Murray para a vampirizar
.
Sem causa Jim Stark entra para a gangue de Alex de Large para noturna vandalização
Mia Wallace comprava cocaína do Zé Pequeno para com Scarface se encontrar
E para não queimar o filme todos eles foram à festa em que o E.T. ficaria na direção

12 de agosto de 2006

Poema Geográfico

Ando nas ruas de Ruanda; Orra, Andorra, anda!
Juvenil e imberbe Antígua e Barbuda
A lábia saudosa na Arábia Saudita
Um chopp da Antártica ou das Bahamas
Deixe de bang bang em Bangladesh
Barbados são os cubanos
Be loser Belize, Benin being out
As gafes estão no Afeganistão?
Birfobia birfilia birlatria Birmania
Boots you wanna, Botswana
Grisalho, blondei em Brunei
Jogando futebol de Butão
América ou odeie pobre
A Costa do Marfim não é uma Costa Rica
No calcanhar d'Itália
Incomunicável a Grécia
Nortista a Suécia
Despenteada a Suíça
Mongólia cerébral
Desamor Curaçao
Finlândia pode ser uma terra para recomeçar
Você pelada Europa
Sou convencido mas não Gabão
Irlanda tem Gana, um Reino Unido
Israel será próprio
Inglaterra de ninguém
Ásia ou cólica
Duras ondas em Honduras
Asia Guatemala te buena qual uma Malásia
Toco viajar ao Iemem intocado, virgem
Panamá se despir
Gala na França
Galinha d'Angola
Iraque é histórico
De araque o Egito
Crânio da Dinamarca
Pouquinho da Índia
Um caos no Laos
Pânico em Mônaco
Tô léso ou Lesoto
Ávrai ou África
Foi ocean or Oceania
À liberdade ibérica da Libéria
Espanha és grata
Portugal tem seu lugar
Líbia com Líbano, lichia com orégano
Mali mau as Maldivas em bons divãs
Em baixa um “ene” é “eme” em Malta
Alto fiquei nos Países Baixos
Escócia elevada
Cheira à Colômbia
Ela manhosa Alemanha
Minúsculo Japão aumentativo
Paraguai con mucho carinho
Imagem Argentina refletida
Prata da casa o Uruguai
Às tralhas e Austrália
Economizar faz bem mas em que Madagascar
Dores de garganta na praia no Marrocos
Maurício nas Filipinas ou Felipes nas Mauricinas
All Nepal ne parle
Nicarágua na Terra do Fogo
Nigger em férias no Niger, na Nigéria
Anda um velho zeloso na Nova Zelândia
Pois Paquistão pôs Paris posta
Paraguai para Hugo hay Uruguai
Qatar Granada, lançar na alfândega
Parlamentarismo saturniano na República Dominicana
Nem Israel nem Salomão são El Salvador
Singapura ou com limão
No Norte pedem e no Sudão
Tour sem guia na Turquia
Argentina Congo bueno Zaire is
Chile se come no México
E.E.U.U. não é pop
Canadá em Cuba
Perú de graças mais caro
Descascando os Camarões
Brasil é o uniforme da Holanda
Holanda laranja da China
General rosa e Cabo Verde
De que Koréia? Vermelha?
Mãe Rússia abandonada
Era de cor Brasil

11 de agosto de 2006

Respostas aparentemente úteis de perguntas aparentemente inúteis

1) Por que laranja chama laranja e limão não chama verde?
PORQUE LARANJA VEM DO ÁRABE "NARANDJA" E LIMÃO VEM DO PERSA "LAIMUM": SÃO DE ORIGENS DIFERENTES. ALÉM DO MAIS, A COR RECEBEU O NOME DA FRUTA E NÃO O CONTRÁRIO.

2) Por que lojas abertas 24 horas possuem fechadura?
PORQUE ELAS FECHAM EM FERIADOS E DIAS SANTIFICADOS.

3) Por que "separado" se escreve tudo junto e "tudo junto" se escreve separado?
PORQUE "SEPARADO" É UM ADJETIVO E "TUDO JUNTO" É UM PRONOME INDEFINIDO ASSOCIADO A UM ADJETIVO.

4) Por que os kamikazes usavam capacete?
PORQUE NO CÓDIGO DE HONRA DA AERONÁUTICA, O CAPACETE FAZ PARTE DO FARDAMENTO, QUE É A IDENTIDADE DA CORPORAÇÃO (E DANE-SE O QUE ACONTECE DEPOIS DA DECOLAGEM...)

5) Por que se deve usar agulha esterilizada para injeção letal em um condenado à morte?
PORQUE OS CONDENADOS À MORTE ESTÃO SOB A SUPERVISÃO DA ANISTIA INTERNACIONAL, QUE CONFERE AO PRESOS CONDIÇÕES HUMANITÁRIAS MÍNIMAS (E QUEM SABE A PENA NÃO PODE SER SUSPENSA NO ÚLTIMO MINUTO, E O ÚLTIMO PRESO FOR UM AIDÉTICO?)

6) Quando inventaram o relógio, como sabiam que horas eram, para poder acertá-lo?
ELE FOI ACERTADO ÀS 12:00 HORAS, QUANDO O SOL ESTAVA EM PERFEITA PERPENDICULARIDADE COM A TERRA.

7) Para que serve o bolso em um pijama?
PRÁ GUARDAR A DENTADURA, ESQUENTAR A MÃO ENQUANTO SE VÊ TELEVISÃO....

8) Por que os aviões não são fabricados com o mesmo material usado nas suas caixas pretas?
PORQUE A CAIXA PRETA É FEITA COM UM METAL DE ALTA DENSIDADE (MISTURA DE>FERRO, MOLIBDÊNIO, SÍLICA E TUNGSTÊNIO), E SE O AVIÃO FOSSE FEITO DESSE MATERIAL ELE NEM SAIRIA DO CHÃO, DE TÃO PESADO.

9) Por que o Pato Donald depois do banho sai com uma toalha em volta da cintura, se ele não usa short no desenho?
PARA QUE A ÁGUA DO BANHO NÃO ESCORRA PELO CHÃO, E A MARGARIDA NÃO FIQUE ENCHENDO O SACO DELE!

10) Se o Super-Homem é tão inteligente, por que usa a cueca por fora da calça?
BEM... COISA DE VIADO, NÃO SE DISCUTE!!!

11) Por que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo?
POR UMA QUESTÃO DE ARQUÉTIPO: QUEM CRIOU OS FLINTSTONES NASCEU DEPOIS DE CRISTO.

12) Por que aquele filme com Kevin Costner se chama "Dança com Lobos" se só aparece um único lobo durante toda estória?
OS LOBOS ANDAM EM MATILHA E DEPOIS DO FILME AQUELE LOBO ENSINOU TODOS OS OUTROS A DANÇAR...

13) Se o vinho é líquido, como pode ser seco?
SECO É A PERCEPÇÃO DO TANINO DO VINHO SOBRE A PORÇÃO MEDIANA DA LÍNGUA, QUE TANTO PODE SER SUAVE OU ADSTRINGENTE (É COMO FALAR QUE O CONHAQUE "ESQUENTA" NO FRIO).

14) Como se escreve zero em algarismos romanos?
EM ROMA NÃO SE CONHECIA O ZERO (POR ISSO AQUELE MONTE DE "PAUZINHOS"). O ZERO FOI UMA INVENÇÃO DOS ÁRABES (ALGEBAR, ÁLGEBRA) QUE FOI TRAZIDA AO OCIDENTE PELOS MESMOS ROMANOS.

15) Por que as pessoas apertam o controle remoto com mais força, quando a pilha está fraca?
PORQUE O MAU DESEMPENHO DO CONTROLE PODE SER CAUSADO POR UM MAU CONTATO NAS TECLAS, E É UM REFLEXO CONDICIONADO, COMO ACELERAR MAIS QUE O NECESSÁRIO QUANDO SE ULTRAPASSA UMA CARRETA.

16) O instituto que emite os certificados de qualidade ISO 9000 tem qualidade certificada por quem?
PELO "BUREAU VERITAS QUALITY INTERNACIONAL", QUE TEM NO SEU CONSELHO REPRESENTANTES DE VÁRIAS ENTIDADES QUE ATUAM NA ÁREA DE CERTIFICAÇÃO, É UM MECANISMO REVERSO.

5 de agosto de 2006

A DIVINA REFORMA

1 NO PRINCÍPIO DEUS CRIOU O TETO, AS PAREDES E O PISO.
2 E O PISO ERA SEM FORMA E VAZIO; E HAVIA TREVAS SOBRE A FACE DA VARANDA; E A HIPOTECA DE DEUS SE MOVIA SOBRE OS VAZAMENTOS DE ÁGUA.
3 E DISSE DEUS: PAGUE-SE A CONTA DE LUZ. E VOLTOU A LUZ.
4 E VIU DEUS QUE ERA 110 A LUZ; E FEZ DEUS SEPARAÇÃO ENTRE A LUZ E AS TREVAS.
5 E DEUS CHAMOU À LUZ TÉDIO; E ÀS TREVAS CHAMOU BALADA. E FOI A TARDE E A MANHÃ O PRIMEIRO DIA DA REFORMA.

3 de agosto de 2006

Poema Sentido

Sinto não sabê-lo
Conhecê-lo é mister
Escusado apontar
Deseducado segui-lo
Como uma rosa
Dos ventos bebe
A ressentir

Chega nesta direção
De longe da página
Descendendo de Lúcifer
Sinistro reverso insensível
Direitinho e na linha
Cai cruzando prosaico
Perpendicular ao poeta

Lá vem para cá
Rasante arrasa condor
Com dor razoável aterrisa
A título de se aproximar
Meridional se norteia
Atravessando o eu
Sem um abraço

25 de julho de 2006

Auto de Lírio

* E DISSE DEUS: PRODUZA A TERRA
A ERVA VERDE, ERVA QUE DÊ SEMENTE,
CUJA SEMENTE ESTEJA NELA SOBRE A TERRA.
E ASSIM FOI. E VIU DEUS QUE ERA BOM.
E ASSIM, NO TERCEIRO DIA DEUS CRIOU A ERVA
E PASSOU A TARDE E A MANHÃ **.
+
Zé, um artesão hipponga, para conquistar as graças de Mariazinha(uma virgem aparecida), dá-lhe de presente um lírio. Ela, alucinada, faz da flor um chá que lhes traz maravilhosas visões numa epifania. Entram numas de gravidez psicológica, chegando mesmo a dar ao mundo um pivete epilético que usariam como "laranja" na missão de multiplicação de sementes; este acabaria preso numa clínica, torturado com trabalhos comunitários até a morte, para nos livrar a cara daquela martirizante falta de maconha desde a última grande cheia. Torna-se um ícone junkie, seus fãs apaixonados o tratam por rei e tem convicção de que não morreu.
+
* grifos meus
** não é fantástica essa ordem?

7 de julho de 2006

sexo, drogas, entretenimento












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Este poema foi incluído no Livro Ruído: http://goo.gl/Xoo79

28 de junho de 2006

SOM CINZA

Fim de noite e eu ouvindo Erik Satie, as teclas entre o computador e eu. Na boca um gosto fraco de café forte. Fumaça de cigarro entre os olhos e a tela, em espiral. Frio feito França. Teclo um OI para mim: harmonia. Ela nasceu da união de Marte com Vênus, a guerra e o amor. Sinto muito os dois agora. Estou escrevendo sem papel ou caneta, eu estranho um pouco o processo, nunca gostei disso. Crio com sentimento, consentimento é criar sem sentir; é preciso um esforço descomunal, incomum só que dos dois modos é normal. Estou a lembrar do sexo que fiz na noite de véspera, intenso como a lembrança do que foi ontem, hoje. Relaxo os ombros, o pescoço estala à esquerda ao me endireitar. O telefone toca uma vez e pára, é o suficiente. Não é para mim, se não me engano. Quanta ternura pode haver no olhar de uma cão? Só quer comida ou carinho, não está interessado no porquê foi recolhido da rua ou em onde será enterrado quando morrer... Quero aprender com este olhar feroz de manso animal. Sei um pouco como é ao pensar nisso, não posso esquecer de lembrar desse poder. Teclo “salvar”. De repente sinto-me em grande perigo e me ponho aflito. Sou do tipo que treme sujando de cinzas a página(o teclado), tremo ao terminar de urinar, ao começar a beber qualquer conhaque, até de frio. A música devagar diminui o ritmo, torna-se mais grave e silencia. Recomeça quando eu acendo outro cigarro com um fósforo, que enche deste odor o meu ar. Tantos pensamentos cinzentos no cinzeiro, já é hora de o esvaziar. O que eu gostaria de pensar agora? Certamente não em algo útil como uma pergunta. Poesia talvez. Levanto-me da cadeira no meio desta grase para folhear algo na estante. Três velhos livros chatos: nA Arte Poética Aristóteles diz que “O poeta faz simulacros com simulacros, assim afastado do vero a enorme distância. Vive, pois, no erro e não tem utilidade alguma.”; em uma Introdução À Poética Clássica encontro Theóphile Gautier dizendo “ Não sei quem disse, não sei onde, que a literatura e as artes influem sobre os costumes. Seja quem for, trata-se indubitavelmente de um grande tolo; é como se disséssemos que as ervilhas produzem a primavera.”; um Dicionário De Arte Poética tenta definir, “Utilitarismo – conceito de literatura, como de toda arte, voltada para fins didáticos ou pedagógicos, com a aplicação do preceito latino do utile dulce, combinação do útil com o agradável.” Então a brasa do meu cigarro pendendo comprida no cinzeiro cai para dentro com um mínimo de ruído. E o nosso pianista se levanta para ouvir saindo da platéia uma ruidosa salva de palmas. Eu acho que consigo transformar isto em um bom começo.

27 de junho de 2006

A L T O R


Eu cheguei a pensar em deletar este blog ou simplesmente não voltar mais aqui. Mas, afinal, decidi visitá-lo e trocar com ele algumas idéias; acabei postando algo integralmente auto-biográfico da última vez, espero que também considere-se isso como literatura. Agora é a primeira vez que me refiro ao blog no blog, espero ainda estar desconstruindo algo ao escrever isto. O fato é que o meu texto vem sendo colocado à prova a medida em que estou escrevendo desta vez um livro bem diferente do primeiro. Talvez isto seja relevante. Quase perdi minha mente nos últimos anos enquanto o compunha, me decompunha; comecei essa história de blog para dar um tempo, quem sabe promover o livro publicando alguns trechos, e de fato foi útil ainda que não em definitivo. Nos últimos meses estive fora de mim a um ponto sem precedentes, era mesmo melhor tentar voltar. Sinto-me benvindo embora maldito. A minha vida não é tão fácil como a minha arte. Mas por enquanto não vou mais abrir mão de existir na vida real em decorrência de qualquer processo criativo ficcional. Ser eu também pode ser bom, e viver neste mundo muito mais agradável para quem como eu não está muito acostumado. Tudo há pouco ainda estava de cabeça para baixo, neste momento estou na ponta dos pés querendo mirar o que vem a seguir. Sinto bastante ansiedade, algum medo, uma apreensão. Mas nunca fui tão livre e estive tão pleno. Seja como for eu acabei sobrevivendo à experiência, à inexperiência. Relendo o que acabei de registrar me surpreendo com a capacidade humana de mudar, não estou mais mudo, mas mudo, tão logo não vou me calar. O blog é o mesmo de antes, nem tanto o autor.

6 de junho de 2006

666,6

São Caos, 06 de junho de 2006.
Anna (palíndromano eu, ela minhamusa)

“Beautiful,
a bit temperamental
Beautiful,
only slightly mental...
Beautiful”
Quase cliché essa noite. Começou de dia, um outro dia, ou numa outra? Eu sou romântico, mas assim eu não bem fico, prefiro ser de um tipo atípico... O fato é que conheci Anna depois de muito tempo de nos sermos apresentados, de nos apresentarmos; no presente, hoje, agora há pouco (agora eu acabei de escrever a palavra “escrever” e são uma e onze da manhã), eu disse a ela antes de começarmos a beber, embora já apaixonados, que havia pensado em trazer-lhe uma rosa de presente, não a tendo trazido para não atender ao chamado do lugar comum, do chamado cliché.

Ela estudou no mesmo colégio em que estudei antes da universidade, mesmo curso same curse, ela gostava e hoje odeia e eu odiava e hoje odeio; não nos conhecíamos, pois ela era legal e eu a achava ilegal, embora eu não fosse legal. Ela se vestia de colorido e tinha muitos amigos e eu, não sei onde estava com a cabeça, não a vi; ela trabalhou comigo em meu primeiro emprego e nem aí. Desatino? Destino! Daquela época estivemos com outros até um tempo atrás, ela com o Sun e eu com a Cat, duas pessoas pessoalmente únicas, eu não o conheci e nem ela a ela, ambos nota dez, Anna e eu, ele com ela e com a outra eu, durante cinco anos namorando ela e eu estivemos nos achando demais com os demais, os dois eram. Anna e eu somos o que estamos, como explicar? É fogo... ai, quente; I can’t.

Do meu ponto de vista ainda bêbado a esta hora, eu, sem preocupar-me com rima ou demora, posso como pude escrever (estou a escrever, só quis evitar do gerúndio a longa duração, o que para mim é fase comprida como é longa a frase) que é melhor não tentar fazer tudo caber aqui desde o começo pois mesmo não houve um começo, está havendo.

Eu estava solteiro e não me engano há seis meses e sempre digo e meu círculo sempre concorda que em certos círculos isto é meio ano. Anna é mais precoce e já estava em outra, com outro, há inteiros dois. Reencontramo-nos por acaso, na estação Pé do metrô há mais ou menos um mês, há nove anos sem contato. Foi legal, mas não demais e se houve algo de excepcional nesse reencontro, depois nós nos confessaríamos não termos percebido. O fato é que nos reconhecemos e por qualquer acaso foi bom, rápido e furtivo, mas bom. Áh... há... não. Havia um amigo dela que estava junto nesse dia (era de noite, eles voltando do cinema e eu de palestra sobre temas afins, a conversa começou em Pasolini, héin), e os temas foram abertos para que ele não ficasse de fora, mas infelizmente não me lembro de seu nome, rosto ou conversa, e já ela... uma análise que faço agora... ela não me saiu da cabeça. Como sempre acontece, e-mails e telefones, como nunca acontece, deu certo. Reencontramos-nos, de novo.

Ela viaja bastante, a trabalho ou passeio, eu trabalho e passeio, ou viajo pouco. Ia a Valsador (Ctrl + B) onde estive nas últimas férias, eu ficaria querendo voltar: leve contigo o meu livro eu disse, diga-me depois o que achou, uma opinião feminina eu preciso, e ela eu fiz Letras e tal e contou uma história, e eu eu fiz História, e ela isso é muito legal. Então houve um hiato fundamental, daqui agora interpreto como um limbo abismal e que nós nos esquecemos de lembrar ser impossível lembrar de se esquecer. Ela surtou lendo meu livro e eu surtei esperando uma opinião dela, à distância e tão próximos. Re-reencontramo-nos um dia; íamos a algum lugar, mas tiramos o dia para conversar; e pela primeira vez senti que do diálogo participavam dois, mesmo durante os monólogos. Anna me deu uma aula sobre mim, senti-me nu; e o trajeto de sua leitura de mim demonstrou-me o que era ela, ela era por inteiro. E o nós estava completo.

Quase. Embora estivéssemos mutuamente numa empolgação crescente, tenhamos nos identificado como se nos soubéssemos de cór e de trás para frente, no vai e vem da conversa ótima de trem ou a pé pela cidade caótica, acho que por dentro um ser ou não cerveja, nós nos existíamos num para sempre ainda ausente. A verdade é que ela não mentiu, minto se disser não saber profundo o que sentiu, demorou um pouco, mais que um pouco, uma esperança ou uma fé, mas não se omitiu, o que eu não queria ouvir ela me dizia, a verdade é que ela namorava. Hoje acho que foi melhor assim, sabendo já o que aconteceu depois... imagino o que com nós dois poderia ter acontecido, estar acontecendo, se assim não tivesse sido.

Loucura. Estivemos ainda muito tempo juntos, até além do que deveríamos, mas aquém do que poderíamos. Aquele dia foi um prelúdio de hoje? E se hoje foi só um prelúdio? O que então exata e definitivamente significará “lúdio”? Um dicionário verde me contou que esse substantivo masculino é sinônimo de ludião (do latim, ludiu.) e que, este, por sua vez, também um “s.m.” é relativo à física: Aparelho destinado ao estudo dos diferentes casos que pode apresentar um corpo mergulhado na água. (do latim, ludione.). Embora sinonimem-se em português assim, d’outra forma o são, insanamente, em latim. É peculiar e divertido que ditos contradigam-se vertidos para intrigar a mim. Enfim, o que poderá acorrer na água conosco de tão intenso e poderoso e agressivo que tudo o que estamos vivendo agora sob o signo do fogo seja apenas mero aperitivo? Como as palavras são experiência é só questão de experimentar.

Acho que nós dois sem saber definir estivemos pensando assim. Uma semana depois e, obviamente aqui se delineia nitidamente uma curva de tempo decrescente de nove anos primeiro e um mês depois e sete dias então, combinamos voltar a nos encontrar. Estamos nos aproximando... andando da Praça da Reprivada à Whosevalt, um teatrinho picante de Sade, uma aguardente com gosto de carvalho e muita vontade... fazia um frio... o que fazer? ela disse, quer trepar? disse eu. Fomos. Não tão fácil, queríamos, mas queríamos mais. O que eu sentia ela me disse sentir o que eu sentia, ela sentia o que eu lhe disse sentir o que ela sentia. Não tão rápido, andanandanandando muito. De braços dados subindo a Rua da Insolação até a Avenida Capetalista e descendo a Aogosto então, não estávamos perdidos é que tínhamos nos encontrado. Anti-socráticamente não sabíamos que sabíamos tudo. Paramos num bar: beber e conversar, como se não pudéssemos parar.

Quando saímos foi para continuar, eram já umas quatro da manhã de domingo e tínhamos nos beijado já em algum ponto. Foi lindo como se fosse o primeiro, mas foi. Logo viriam outros e a noite não queria acabar, a vida parecia começar ali. Foi como se nós dois, perdidos numa suja, quiséssemos nos lambuzar, chafurdar naquela lama primordial do amor. Primitivos então, queríamos nos aninhar um no outro e consumar o que nos consumia, ardíamos. Fogo e ar. Andamos ainda muito sem parar de conversar um instante sequer o tempo todo, lembro-me de tudo, pois era o melhor assunto do mundo, o nada e nós e tudo. Os dois. Um só nunca mais sozinhos.

Dessa forma nem sei como chegamos à Santa Ervílha onde um motel recebeu-nos ao fim da noite por módica quantia, ela sem R.G. maior do que isso, corredores e portas das nossas mentes na dela eu e ela na minha, nós entramos pela nossa, estava entreaberta. Fechou-se atrás de nós deixando o resto do mundo de castigo para cometer-mos o que nos acometia. Metemos-nos um no outro e quatorze horas depois já vestidos é como se nunca tivéssemos saído; o sol que não vimos chegar e se ir, na verdade, penso que nem existiu.

Depois tivemos de nos haver, ela em falta com sua família de plantão e eu com o plantão no trabalho ao qual faltei. Mas já estávamos saciados do que mais queríamos a despeito do trabalho e da família de que precisamos. É algo impreciso querer. E então fomos dormir.

Nunca uma segunda feira foi tão boa; estivemos como bobos e mantivemos contato. Combinamos tanto... combinamos algo para logo mais. E é só encontrá-la para o resto sumir. Anna e eu como namorados por aí de novo, e como nunca. Como fogo que queima, que teima... melhor do que antes, um do outro um outro dia, à noitinha. Por inteiro, mas como não podia ser a noite inteira e ainda procurávamos um motivo, bebemos um vinho memorável, memorioso e emotivo, que nos fez nostálgicos e elucidativos, sedados, imaginosos, instáveis e alucinógenos um para o outro, foi só um motivo para nos abraçar mais abrasados, fogosos, ativos. Mas não tínhamos que voltar? Então mais apaixonados do que bêbados, como ébrios tocamos fogo na cidade. Indecentes incandescíamos. Não havia sobrado muita coisa de mim após nos despedirmos, só as cinzas. As palavras dela na minha cabeça. O nome dela: Anna. Sim... A, N, N, A. Nunca fora tão bom viver.

Eu voltei sozinho para casa, pois precisávamos assim fazer, mas eu tinha um pressentimento de que não deveríamos mais desgrudar. Uma coisa é se eu fosse com ela, outra se ela viesse comigo. Eu me explico. Solitário no vagão em que nos despedimos, donde ela saltou saltitante, onde eu corri atrás relutante, segui meu caminho fumando sozinho e na madrugada vazia tomei o último ônibus para casa, igualmente sem ela, eu era o vazio, mesmo repleto dela eu pensava em logo chegar e sentar-me nesta cadeira diante do branco que saberia não ter, escrever o que vim pensando, pensando nela. Escolher algo para ouvir condizente com a noitada, com este novo dia, ou com o Ideal que sentia, respectivamente: o “Black Sabbath” do Black Sabbath? ou seu contrário, “A Love Supreme” do John Coltrane? Então acabaria escolhendo o “3.. 6.. 6 Seconds Of Light” do Belle & Sebastian e tomaria uns versos da música “Beautiful” como epígrafe pondo-me então a escrever isto aqui, hoje, só para ela. Mas não escrevi, eu viria a morrer de amor pouco antes, morri.

Leve uma rosa para mim. Seria cliché? Quase...

Seis horas

6 de fevereiro de 2006

A Bomba ou Manifesto Extremista

É preciso uma Arte extrema. Quero um novo modelo, uma forma alternativa, mais possibilidades. Dor e sangue e sofrimento são necessários aqui. Falta o choque, o conflito, a luta do artista com a matéria ética é da boca pra fora. Vê-se agora o jornalismo substituir a História, que a História virou sermão. Impera a apatia. O mercado é o deus e o dinheiro o seu profeta, a loteria pode nos salvar. Não houve revolução nem apocalipse, ainda se aguarda pelos extra-terrestres, enquanto isso: o tédio. O niilismo é uma tendência razoável e prática, até prudente, mas não nos leva a nada. Consumimos e criamos ideais vazios o que em nada ajuda. A Civilização Ocidental tornou-se toda superfície, banal; a Oriental é exótica, um parque temático. Existem agora muitas mídias, nenhuma entrega; muitas fontes de inspiração, nenhum esforço; muitos gastos, nenhuma cultura. Peço aos intelectuais a atenção. Convoco os artistas à reflexão. Incito os críticos a formarem melhor o público. Conclamo ao público que exija mais. Há que se abrir novos caminhos criando uma perspectiva melhor. O modernismo acabou, se fragmentou, e nessa ruína estamos pós. Urge se criar uma nova Arte, novas formas e temas. Não falta material só substância. Perdeu-se o interesse pela renovação. Desde que se proclamou que tudo é Arte, que a Arte morreu e que em qualquer expressão humana há Arte, os artistas se acomodaram, estão tímidos diante dos artistas mortos e suas obras mortas. Este programa é um grito de desespero nos ouvidos de quem valoriza a Arte: enlouqueçam! A cena atual exige transformações sólidas para redefinir a Arte e recriar o fazer artístico; solidificando novos alicerces sobre o velho terreno da Arte. Preocupemo-nos com a qualidade da obra, aprendamos com a dúvida e com a falta de inspiração, reflitamos demoradamente para gerar algo diferente. Tornemo-nos atuantes, atuemos na transformação. O artista precisa, no mínimo, engajar-se na própria Arte, ele precisa de fé em seu labor, e laborar seu sacerdócio, o que vem a aprender com isso é o seu messias; religuem-se em si mesmos e sejam fiéis a própria inspiração. A vida esta todá errada, alguns vêem e não se manifestam; a realidade está acontecendo a despeito da Arte, a Arte acontecendo à margem da vida. Queiram logo repensar os acontecimentos e devolvê-los às pessoas refletidos, eis o nosso papel. Melhorem o mundo! Dêem ao povo alegria e sentimento! Ensinem a todos a ter mais discernimento! Mostrem-lhes como eles são... façam que pensem também. Permitam que discordem e instruam-lhes a duvidar. Levem às gentes o sonho, a esperança, a transformação. Derrubem os cânones antigos e os valores ultrapassados. É preciso beber dos clássicos e vomitar a novidade. O momento convoca os artistas a serem extremos. Aí estão as idéias. Criem, criem, criem! Acreditem nesses fundamentos ou em outros, mas façam algo. Artistas do mundo, muní-vos de inspiração e motivem-se à Criação! Explodam.
Arte: radical, marginal, violenta, libertadora, extrema, contundente, fundamental, engajada, anárquica, delinqüente, ilegal, experimental, revolucionária, alternativa, plural, detonadora, chocante, nova, caótica, inútil, múltipla, organizada, solta, subversiva, panfletária, desregrada, impossível.
A literatura extrema. Aplicada. Feita só de melhores e decisivos momentos. Sem encheção de lingüiça, sem conceitos embutidos, sem moleza e descanso para quem escreve ou lê ou analisa ou critica. Pensada inteiramente em cada vírgula. Despida de acessórios banais, repleta do essencial. Obra que leve em conta tudo o que não menciona. Um texto aberto, amplo, múltiplo. Que abarque tudo e também o nada. Com estética que fale do conteúdo e conteúdo que fale da estética. Abrangendo a vida e a Arte. Reflexo da época e da História, do autor e do público possível. Que se volte para si servindo a todos. A Arte quer o impossível e não teme o erro pois sempre é experimental. Compromisso: Eu não mais me deixarei prender por quaisquer gêneros literários. O que hoje se chama romance, uma invenção do século XIX, precisa evoluir para outra coisa; uma forma de texto mais livre, abolindo distinções entre prosa e poesia. Variado, precisa ser rico em formas e idéias. Não deve depender de enredo, coerência ou personagens; não se detém diante de nenhum maneirismo; pois é anticonvencional, sua singularidade é ser plural. É inteiro um conceito,um experimento controlado, o ensaio e sua crítica, seu próprio manifesto, seu duplo. O que poderá ser mais evidente ao Leitor do que a verossimilhança de meu narrador com um ser real? É quase o próprio autor mas não passa de um alter ego, sem deixar de ser tão semi-auto-biográfico como eu mesmo sou semi-ficcional. Cada fragmento é uma parte essencial do todo, e cada lacuna é um silêncio proposital sobre algo que não precisa ou não merece ser escrito. À medida que avança a leitura complica-se mais a compreensão, como num jogo, o prêmio só no final. Quero a Arte e dela parto para recriá-la num Livro, restando somente, uma vez escrito, lê-lo, para em seguida refazê-lo para relê-lo para fazê-lo de novo para...

31 de janeiro de 2006

SÓ SOB O SOL

O imperecível Perú. Sigo de ônibus, carro, motocicleta: burro, jumento, cavalo. Vou pela Cordilheira dos Andes, depois do lado de lá. O caminho subindo e subindo enquanto a temperatura vai caindo e caindo. Sendas: dê o kú! Minha vida meus mortos meus caminhos tortos. Névoa, neblina, nevoeiro. Índios. Dura vida, dura a vida. É subida que não acaba mais, só se sobe. Barro e barranco. Rios gelados desfilam entre os desfiladeiros. Elevam-me. Pedra sobre pedra sob pedra. Paisagens. Convivem incas e incapazes. Sacrifício. Aqui no alto não há asfalto. Sigo. Grilos, cigarras, pernilongos. Devagar quase parando apenas quase parando de vagar. Milhas e milhas em milhas. Milho, batata, mandioca. Íngreme. Antes delirantes. Café amargo. Estrada e estrada. Casebres, casinhas, casinholas. Não paro não fico não me mumifico. Pão e empanada. Frio o vento veloz é assovio. Sombras. Borboletas e mariposas. O caminho é pedra e gozo, pedregoso. Palha e pólem. Criollos, gentios, mestiços. Décimo quinto mundo. Pressão do ar. Enxaqueca. Quem te mata mate quente. Fogueira, fogo, fogareiro. 0º. Rumo ao topo, alto e plano, altiplano. Folhas de coca: masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca, masca. Tomam-se altitudes. O Perú é inverossímil. Buzco Cuzco. Uma cidade perdida. Achei-te, custo a crer; digo e, dito, acredito. Perco-me de novo na rua. Vou por aí me mexer. Populares, poupo os lares. Tudo é quadrado. Tanta plaza tanta iglesia. Cães e pombos. Engraxates, fotógrafos, ambulantes. Alamedas e bulevares. Pedrarias, escadarias. Ouro. Esquinas dessa cor quente decoradas colonialmente. Varandas vêem-me andar avarandado. Claro-escuro, doce-amargo. Céu de metal. Homo faber. O olho culto: a saia, o decote e o mistério do oculto. Relativa liberdade absoluta; absoluta liberdade relativa. Pobres podres pobres... quem quer pão levante a mão. Esmola. Saio por aí. Aqui a grana. Curto longamente. Divirto-me. Grana, grana, grana. Hotel quinze estrelas. Tolo, atolo-me em ouro enquanto há plata, impraticável. Esbanjo e dilapido, devasto. Frio traz tosse, tosse catarro, tusso e escarro, piso Pizarro. Da varandinha colonial miro um cão a correr alegremente por entre as flores do jardim multicor da Praça de Armas em paz, enquanto degusto o revigorante chá de coca que transporta meu olhar através das cores tremeluzentes da tremulante bandeira da Municipalidade de Cuzco para as andinas elevações de terra circunvizinhas de onde se eleva a erva em silencioso brado ufano de tantas dores: Viva el Perú glorioso! Sentado só a beber meu trago e o som que não faz meu pensamento sem ninguém esperar a fumar sombrio enquanto tento digerir o absurdo de minha incompreensível existência. De que sou feito, ainda não sei. Encrencas, brigas, confusão. Pazes, amizades. Ponta de faca, faca fina ferimento, vou fazer meu fumo fino, fino fraco fedorento. Maconhas... maconhas... maconhas... Baseado em fatos reais, realizado em baseados fatais. Eu fumo mas não trago quem traz é meu amigo. Um tapa na Maria Joana ela pisca e não reclama trago ela para dançar. Música e festa. Dança e gritaria. Barulhos: todos serão ruídos. Rodando e rodando. Transe gentio. A animalidade todo espírito humano. Bárbaros. Um eu pagão, selvagem, demoníaco. Borracho de me borrar. Just Fecal graffitti: cagar é a lei deste mundo, cagar é a lei do universo, cagou João Paulo II, cagou quem fez este verso. Cagando de pau duro. Quando bato punheta teu cú relampeia, privada estremece, caí caco de “teia”, se não tem vaselina eu ponho com areia, boceta apertada comigo laceia. Sexo é algo tão inevitável quanto a puberdade. O corpo é o melhor alimento para a alma. Sexo e droga, bares G.L.S.D. Buy someone now. Prostíbulos, puteiros, zonas. Neon, luzes, luzes vermelhas. Cheiro de fezes e esperma, vaginas sujas, lubrificante e amor. Não existe amor, é o medo da Aids que nos une. Lenocínio. Gozar. Libido sentiendi. Orgasmos or not. Gozo a noite e o dia; alegria... Rio com as putas, apalpo-lhes os dons e lhes pago bebida, com elas vou para a cama e deixo sempre uma nota além do preço quando me levanto. Vivo a vida inigualável. Gatinhas e gatinhos. Matronas e ninfetas; machões, latin lovers e efebos de quinze anos. Contraí a hipocrisia das putas e as doenças das donzelas. Sifilização Ocidental. Um branco em meio a nativos, entre gringos outros. Eu, branco centauro desmontado deus, pele e cabelos brancos, idolatria, endeusado fetiche; totemismo, Eros e Vênus e Dioniso, mitolorgia. “O rebolado dele é ultrajante... sigam-no!” Durmo até tarde; a única coisa que me faz acordar cedo é sexo. Bebo meu meio grogue. Pago, desembolso, gasto. Não posso conceber a monumental estupidez que encontro numa cerveja gelada. Um respiro, arroto pulmonar. Tragar, não pensar, só existir. Charas. Cigarros, charutos, cigarrilhos. Foi bom para mim. Praticamente não há mais prata. Aproveitei enquanto durou, mole mole mole, fiquei duro. Repudio a tão procurada aurea mediocritas que Aristóteles roubou de Pitágoras tão fácil e hedonísticamente, e que de forma tão exageradamente ascética foi descrita nas Odes de Horácio; O equilíbrio exige movimento e eu não perco mais meu tempo me equilibrando na corda bamba chamada meio-termo. Caio na vida. Perfeitamente adaptado à cidade, acho que agora não posso mais me considerar um viajante; então posso sentir-me à vontade para dar uma de turista. Pago um fotógrafo para registrar-me num cafe, tomo um chá de coca, compro uns postais, uns souvenirs, ando pelas ruas, alamedas e travessas, subo e desço as escadarias, fumo um cigarro meditativo numa igreja vazia, mijo num canteiro, observo as pessoas. Ruas e praças bem projetadas formam esquinas de ângulos retos, um mapa que se pode chamar de geométrico. As crianças jogam rayuela. Cães dormem sob os bancos das praças. Tudo tranqüilo como sempre, movimentado de mormaço, uma ou outra buzina de táxi, repleto de gringos. Sobre os prédios baixos a paisagem me alcança junto com a visão de outros tempos imemoráveis. Nunca me esquecerei daqui. Até aqui Cuzco foi minha última fronteira, hão de haver outras, agora preciso voltar antes de seguir. O dia amanhecendo me transporta para a cabeça a idéia de recomeço, eu agradeço; à partir desta idéia minha cabeça começa a se repovoar de pensamentos. Um homem me pára na rua oferecendo-me uma passagem de trem (15% de desconto). Por que não? Macchu Pichu, aí vou eu... não é longe da cidade mas não tão perto assim. O trem não é muito antigo e a viagem sossegada, motivos suficientes para não tê-lo tomado antes, mas hoje é diferente; volto a deixar-me conduzir pela vida. Caminho o caminho o resto do caminho, nenhum contratempo e nenhuma aventura, é só pagar e entrar. Eis-me aqui na montanha velha, em meio às ruínas, solitário no solo sagrado de um povo vencido, sem ecos do sangue derramado de um e outro lado, o caos reconquistado; vago devagar; aprecio o que restou da cultura infinitamericana original. A Civilização Ocidental já teve fim uma vez...


Perdido neste distante voluntário abandono
Caminhando colho frutos entre as flores
Rememoro beijos que dei não sou mais dono
Deitado sobre o pétreo movimento plenos amores

Eterno retorno signo Sol minha estação mental
Novamente chegastes meu eu neste mundo antigo
Mariposa que enluara minha incauta sombra ancestral
Amarelo esclarece a luz peruana onde me abrigo

Já tão nostálgica bruma que ouço
Sem palavra venta para lá o horizonte
Hélico céu entrevisto do calabouço
Restitui-me a cor pálida à inculta fonte

Dia perfeito ainda se vai enquanto brilha
Maravilhas numa derradeira visão
Sozinho volto triste pela mesma trilha
De tão rara beleza que contraria a razão

29 de janeiro de 2006

27 de janeiro de 2006

Espírito de porco

Este textículo é um excerto das Sagradas Cuecas (ou Pará-bolas) extraído dos anais do Santo Orifício. No duro período de um ânus que durava o retiro, isolado do prepúcio exterior e cercado apenas dos mais elevados corrimentos, em meio a mais bucólica natureza de seus baixos instintos, alimentava-se o iniciando apenas de lavagem (restos de comida), bebia água parada e desinteria benta. Assim, masturbava-se à toda e diariamente, como manda a antiga tradição de nossos precursores onamistas, enquanto recita em puro latim os sutras e mantras divinatórios de nossa santa sociedade secreta, Razão LTDA., da qual a invocação ad ignorantiam suprema é: stupro, caede, adulter, homocida, parricidia ac periurus, plesbitericidia, audax, libidinosus, fornicarium ac sicarium, proditor, raptor, incestuosus, incendiarius, ac concubinarius, lussurioso incestuoso, perfide, sozzure ac crapulone, assassino, ingordo, avaro, superbo, infidele fattore di monete false, sodomitico, uxoridido. E nestes termos deveria nosso confrade proceder seus estudos masturbatórios nunca sedendo a tentação de reter o sêmen. Algo gozado foi que ao final do priápico período de eremitério estipulado os outros vieram buscar o nosso "veterano de si mesmo", resgatando-o de sua solitária e esgotante jornada interior e, no lugar onde deveriam encontrá-lo, sob o carvalho ancestral sobre a antiqüíssima colina, encontraram nada mais e nada menos que um espírito de porco.

26 de janeiro de 2006

Uma paranóia outra para mim

Eu estava semiacordado, não tinha remelas mas tinha na boca a saliva azeda e densa de cada manhã, via-me no espelho retrovisor do carro, os cabelos brancos e a cara de sono. Era noite e a rua escura paralela à rodovia onde estacionei sob uma ponte está deserta. Construções antigas abandonadas, em ruínas, sujas e pixadas em preto e branco e azul. Sentia-me absorto em meio ao lugar, ao silêncio e à quietude, e à paralisia de que me via refém. Como não dormia há quinze dias, devo ter dormido muito; não tenho relógio, que dia é hoje e que horas são? Confusão tranqüila, vento parado, mornas variações; rápidos pensamentos que passavam por mim naquele instante... teria sonhado? Olhando ao redor não via mais nada, nenhum movimento. Até que, na esquina à esquerda, mais distante, dobraram dois homens que vinham seguindo a calçada em minha direção e fiquei a olhá-los assim, pé ante pé, caminhando na escuridão por uns minutos até ver-lhes os rostos desconhecidos, eram desconhecidos. Eles olhavam para mim. Desviei deles o olhar em um impulso de ver no espelho que olhar tinha eu, que visão de meus olhos eu lhes oferecia; no canto direito do espelho vi outro homem, vindo por traz do carro, lentamente. Nos demais espelhos, conferi que vinham mais outros, um trio. Tinham todos o mesmo caminhar impessoal e ininteligível que atônito apreendi. Surgiam outros, vários, de olhar inexpressivo, duros e severos como se tivessem um objetivo só. Fui logo tomado de uma angústia que aumentava a cada passo daquela gente vinda de todos os cantos. Eu assistia passivamente o desenrolar da cena, temeroso do que viria a seguir, mas ansioso pelo fim do suspense criado pela eminente iminência do desfecho próximo. Abalava-me tanto com meus nervos frágeis de paranóico que o carro todo pôs-se a chacoalhar, tremia junto com as ruas e as paredes no entorno, o céu em seguida, incoerente; e a insensatez do que via não correspondia à mera realidade, eu sabia. Foi só quando tudo começou a girar e girar e girar que desdenhei de meus sentidos e suspeitei do sonho, talvez da loucura. Cercado pelas pessoas paradas em volta eu nada entendia e tudo o que via eram as imagens tornando-se líquidas à medida em que se desfaziam meus nervos e minha razão. Eu estava girando em meio ao horror daquela fantástica situação, afundando perdido, vencido, à deriva nas turbulentas águas do não sentido onde me dei conta do trágico redemoinho humano que me sugava em espiral. Emoções impensáveis; passado e futuro num presente contínuo ainda passaram por mim... Era a crise, era o caos, era a descarga que acabava por submergir a merda da minha mente com aquele ruído esdrúxulo característico. Pronto! Eu estava do outro lado. Voltando à superfície na calmaria do exausto pensamento. Dispersando o medo. Dissipada a fobia de linchamento, abro os olhos recordando-me bem, agradecido àqueles gentis homens que tão bons e solidários ofereciam-se para empurrar o carro que não saía do lugar.

25 de janeiro de 2006

24 de janeiro de 2006

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