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6 de janeiro de 2007

B's. A's.

duas moedas para o coletivo terraportar-me do aeromorto
polinizado pela daninha flor amarela que não se extingue
adentro a urbe à margem esquerda do rio de prata absorto
segundando os olhos e passos de minha Beatriz bilíngüe
...
ao imenso Obelisco perpendicular falo
esqueço de ouvir o olvido sonoro
é dezembro desde Julho ou Maio
bolivarianos, san-martinianos
velhas bandeiras sujas e rasgadas
azuis as águas e o céu não fora o barro e a fumaça
brancos monumentos e dias é claro
as paredes de pichadas não estão livres
...
carteado, truco ou aposta
quem te mata mate quente
nas gauchescas rodas
jardins nas praças nos parques
desde as quadriláteras esquinas
por uma cabeça e cinco quartos
cavalos circulam corridas
sem asas e sorte no jogo de azar
...
milanesas e empanadas
vinho e refrigerante e cerveja
cafés sol-guardados nas calçadas
restaurantes com postres sobre-a-mesa
...
tangos, milongas / / / / / Gardel, Piazzolla
ex-voto de minerva / / / / / bandoneon guitarra baixo
sem mais delongas / / / / / com punhal se degola
Perón e Eva / / / / / portenho coagulando gaúcho
...
os múltiplos centros e a unívoca periferia
peculiares as palavras chiam como chicotadas
espanhola língua de novo o mundo a nostalgia
ao caminhar diz-se que se faz o caminho
...
carteado o embaralho
anoitece as histórias
encaminham a estatuária
caudilhos, patrões, compadres
preto fumo o que pitam
de aço de ferro de lata
flor dos que duelam a faca
desde pampas desce
sobre patagônias sobe
preferível dizer Malvinas
nos pátios pertence-me o sol
mas é tua a avarandada a lua
...
nada como a morte para melhorar os vivos
revoluções de sete palmos de guerra
desterrados, mortos, desaparecidos
o tempo não revolve, resolve a terra
os mais ousados debaixo do rio ou no fundo do chão
a carne jamais vingada dos nativos
...
viro-me para o povo que se vira
mímicos e mendigos e mágicos
artistas da fome e da sede de se recriar
tocadores e trombadinhas e titereiros
volto-me para as ruazinhas barulhentas
a música em trânsito nos chingamentos
às carruagens aos táxis às biclicetas
no que me pesam no que me levam
...
ou branquitude criolada ou
che, maradona, che
a mão do deus rasga o romance do diado
amor mestiço ou ódio mulato
Martin Fierro ou Don Segundo Sombra
a arte da pena que a vida alonga
julistas e jorgeanos nas livrarias
entreabertas até antes tarde
nunca, nena, nunca
panela que manifesta a ação
sem-vergonha a Casa Rosada
aqui se pergunta “que sei eu?”
lunfardo contra a Real Acadêmia
surreal não é Xul é o Sul
...
na Recoleta em Puerto Madero em Palermo
essa adjetiva urbanidade de cor argentina nos lugares
em La Boca no Retiro no San Telmo
dessa cativa saudade que se imagina em bons ares